“Quando escrevo digo o que vejo e o que sinto. Sem censura nem auto censura. Perigo sempre há em terra de cobras e ratos. Mas e calar? Calar, mata. Aos pouquinhos. Enferruja o caráter. Dilapida a alma. Por isso não escrevo no anonimato, escondido em pseudônimo ou e-mail falso. O que escrevo sou eu e minha presença na vida. Não me pesam os silêncios do medo nem a arrogância das falsas coragens. E, por isso, sinto profundamente pelos que se calam, se protegem, para não se ferir. Cujo medo lhes dobra o caráter e permite aos violentos e desonestos ousar o quanto ousam nas Alagoas. O povo, como boi manso, pasta sua omissão e sofre sua submissão. Esta incapacidade de reagir às agressões sórdidas que sofremos, sobretudo na vida pública, com o dinheiro público, com o patrimônio público, anima os bandidos, alimenta sua ousadia de crápulas e os faz mais bandidos ainda, diante da fragilidade dos que são roubados. E desertam de reagir como homens!
Para uns, isto se deve ao caráter do povo, a personalidades tíbias e vocacionadas para viver de rastros. Para ou-tros, é a pobreza que enfraquece o povo. De uma forma ou de outra, vencido pelos canalhas, subtraído do que tem e do que é, o povo resolve a sua fome e sua sede bebendo lama. Se, e até quando, os bandidos deixarem. Povo com sede, bebe lama, diz a música. Será que o alagoano é um povo que, por fraqueza e omissão, irá, para sempre, beber lama?
Vejo nas ruas, quando ocorre um choque de carros, sem vítimas, com pequenos prejuízos, surgirem dois motoristas "valentes" a gritar e agredir um ao outro, a ponto de lhe dar um tiro. Por uma triscada, quase nada. E por que esta fúria das ruas, meio patética e meio circense, não é canalizada para se lutar contra as quadrilhas de políticos desonestos que arrancam, sem piedade, os recursos públicos destinados ao combate às doenças, à fome e à ignorância? Por que valente nas pequenas causas e omissos e covardes nas grandes?
Quando vi na televisão o principal hospital de Recife, de urgência, com os corredores intransitáveis de doentes a um passo da morte, esquálidos, cadáveres ambulantes, por falta de recursos para a saúde (a saúde pública que o presidente Lula afirmou ser quase perfeita) lembrei-me dos taturanas e dos gabirus que serão candidatos, de novo, em outubro, para roubar mais. E vi que o voto que eles compram é o sangue, é o soro que falta nos hospitais e a doença criminosa que mata como uma calamidade política e social. Uma calamidade policial. A vitória de um gabiru é a falência ética de um povo. De uma justiça que se prevalece dos esconderijos da lei para omitir-se. (...)”
Texto de: Mendonça Neto.
integra publicada no http://www.extralagoas.com.br/noticia.kmf?noticia=7483832&canal=342
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Um comentário:
gostei muito do que vc escreveu ..
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